28/10/2008

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Desde os tempos mais remotos, que a zona ribeirinha de Corroios incluindo esteiro, sapal e caniçal apresenta condições especiais, para a permanência de aves adoptadas ao meio aquático.

Nesta zona abrigada do vento, de pouca profundidade e onde o vai-vem das marés se faz sentir, abundam peixes, mariscos, algas, plânctom e detritos ôrganicos, os quais constituiem alimento para as muitas aves que por aqui passam, repousam ou se estabelecem. Já nos tempos pré-históricos, esta área foi para o homem recolector, uma riquissíma fonte de caça. Mas foi a partir da idade Média, que nesta orla ribeirinha, a nobreza portuguesa veio instalar as suas casas senhoriais, na mirawpe9.jpg (14076 bytes) de caçar. Estão neste caso, a Quinta Real do Alfeite, a Quinta da Princesa ou da Infanta, a Quinta do Palácio do Infante, a Quinta do Conde ou a Quinta do Castelo. O próprio rei D. Carlos caçou nas suas sete quintas reais do Alfeite, debruçadas sobre o Sapal de Corroios, das quais fazia parte a actual Quinta da Bomba do Antelmo a caminho da Ponta do Mato, onde ainda hoje se encontra um edificio em escombros, a que o povo sempre chamou de casa da caça D'el Rei D. Carlos.

Normalmente, esta zona ribeirinha, é frequentada por mais aves no inverno - aves invernantes - do que no verão. Nesta estação fria, podem permanecer nesta área 5 a 10 mil aves, enquanto que na estação quente o seu número pouco ultrapassa o milhar.

É pois no Inverno, que muitas aves migradoras vêm do Norte da Alemanha, Suécia, Noruega ou Finlândia fugindo aos frios rigorosos, procurando o Sapal de Corroios, pelas temperaturas amenas e abundância de alimentos.

Estão neste caso, especialmente as limicolas, ordem das charadriiformes, que com seus bicos compridos e na maré vazia, procuram entre as lamas e os limos o seu alimentos.

Dentro destas aves, salientam-se as seguintes: Alfaiate - (Recurvirostra avosetta), Maçarico de bico direito - (Limosa limosa), Maçarico Real - (Numenius arquata), Perna Vermelha Comum - (Tringa totanus), Tarambola cinzenta - (Pluvialis squatrala), Pilrito Comum (Calidris alpina), Borrelho de Coleiro Interrompido - (Charadrius alexandrinus). A primeira destas limicolas referidas, o Alfaiate, é o simbolo da Reserva Natural do Estuário do tejo e mantém durante o inverno, nesta vasta região terminal do rio, onde se inclui o Sapal de Corroios, cerca de 60% da população mundial desta espécie. Sendo aves relativamente sociáveis, chegam a frequentar própria a Caldeira do moinho de Maré. As outras limicolas referidas, só se encontram normalmente no interior do Sapal, no meio dos mouchões a caminho da Ponta do Mato.wpe7.jpg (14123 bytes)Da mesma ordem dos limicolas são igualmente as gaivotas, as aves palmípedes, muitas das quais residentes todo ano por estas paragens. De grande abundância e em expansão, migram diariamente em busca de comer até ao aterro sanitário da Quinta de Valadares, por detrás de Vale Milhaços. Dentro do grupo das gaivotas, distinguem-se as três espécies seguintes: Gaivota de asa escura - (Larus fuscus), Gaivota Argêntea - (Larus argentatus) e Guincho - (Larus ridibundos).

Qualquer uma destas espécies, pode ser encontrada com frequência na caldeira do moinho de maré, embora em maior número durante o inverno.

Outra ave palmipede, mas de ordem dos Anseriformes, o Pato Real (Anas platyrhynchos) tem tentado mesmo a nidificação por estas, como por exemplo nos caniçais ribeirinhos da Quinta do Castelo, sendo infelizmente frequentemente perseguido.

Também uma outra ave palmipede, o Corvo Marinho de Faces Brancas - (Phalacrocorax carbo) aparece especialmente no inverno neste habitat, ultimamente procurando alimento no viveiro de peixes de nome Esperança existente junto à Quinta da Princesa, pertencente ao proprietário Sr. Luis Fernandes, o qual se vê obrigado a enxotá-los para que não se avultem os prejuízos. Estas aves, que deram o nome à designada Ponta dos Corvos, são excelentes mergulhadoras, alimentando-se preferencialmente de enguias, as quais procuram nos fundos do leito do rio.

Também a ordem das ciconiiformes está aqui representada pela Garça Real - (Ardea cinerea) e pela Garça Branca - (Egretta garzetta) que costumam frequentar os mouchões em frente da Quinta do Rouxinol, não muito longe do moinho. A Garça Real é a maior ave aquática do Sapal de Corroios, tratando-se de uma pernalta, com aproximadamente 90 cm de comprimento por 170 cm de envergadura.

Apesar do seu grande tamanho, o peso não ultrapassa normalmente os 2 Kg. Durante o inverno de 1991, foram contados 38 exemplares na zona, o que é um número muito significativo.

Esta ave invernante em Corroios, durante o verão pode ser encontrada nos portos de cidade como, Amesterdão na Holanda ou Estocolmo na Suécia, onde é muito sociável por não se sentir ameaçada. Hoje, já é um simbolo e uma espécie protegida da Reserva Ecológica do Seixal.

Também a Galinha de Água - (Gallinula chloropus) da ordem dos Gruiformes, é comum durante o inverno, nos caniçais dos fundos dos esteiros, tanto na Quinta do Castelo, como do lado de Santa Marta, junto da Quinta da Princesa. Encontram-se igualmente dentro dos caniçais outras pequenas aves da ordem dos passariformes, como é o caso do Rouxinol dos Caniças - (Acrocephalus sp.) - ou do Pisco de Peito Azul - (Luscinia svecica), os quais chegam mesmo a nidificar.

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A Quinta do Rouxinol não parece dever no entanto o seu nome à existência desta ave na zona, mas sim, ao nome de familia dos seus antigos proprietários. Em 1744, pertencia a Francisco Rouxinol e em 1770 ao Dr. António Félix Rouxinol, assim como a Quinta da Nisa, junto do Alto do Moinho, pertencia em 1755 ao Dr. Nisa.

Devido não só ao excesso de caça, msa também à degradação do ecosistema riebirinho, algumas aves desaparecem quase por completo. Estão neste caso, a cegonha branca - (Cicónia ciconia), os astraceiros - (Haematopus ostralegus) outrora abundantes nas ostreiras locais, que lhes forneciam alimentos e a aguia sapeira ou tartaranhão ruivo dos paúis - (Circus aeruginosus), atenta predadora de peixes e crustáceos, que com seus voos picados perfurava as águas do esteiro.

Com a concretização do Plano Geral de Saneamneto do concelho, já em execução pela Câmara Municipal do Seixal, que trata neste momento as águas residuais duma parte significativa das populações, na E.T.A.R. da Quinta da Bomba e com a criação da Reserva Ecológica Municipal, que cria um regulamento específico de caça para esta zona ribeirinha, estamos no caminho certo para a recuperação do ecossistema.

Sapal de Corroios


I

Deste local é possível observar-se as principais características morfológicas de um sapal salgado em estado de maturação avançado. O sapal desenvolve-se sobre sedimentos essencialmente vasosos e é cortado por numerosos canais de maré, meandrizados e anastomosados, apresentando por vezes, um padrão dendrítico nos canais de ordem inferior. Contrariamente às redes fluviais da margem terrestre adjacente, os canais de maré dos sapais não são formas erosivas, mas formas remanescentes da degradação lateral e vertical dos bancos de vaza que os confinam. A textura e constituição mineralógica destes sedimentos, essencialmente siltosa, argilosa e orgânica, confere-lhes propriedades de floculação, absorção e troca iónica importantes com a água de circulação. Estas propriedades permitem a retenção selectiva de algumas substâncias poluentes (nomeadamente metais pesados) extraindo-os da água de circulação, ficando armadilhados no sapal em crescimento. Por isso, os sapais funcionam como "rins", depurando o sistema hidrológico. Os sapais são ecossistemas que incluem vegetação halófita, apresentando zonação característica determinada pelo tempo de imersão. A vegetação é um factor condicionante da evolução do sapal, sendo os seus sistemas radiculares e estrutura aéreas armadilhas eficientes para a captura de sedimentos trazidos em suspensão pelas correntes de maré. Constituem as zonas de maior produtividade da biosfera, tendo papel importante como berçário de variadíssimas espécies piscícolas e local de nidificação de aves. Cerca de 46% das margens de sapal da Baía do Seixal encontram-se fortemente intervencionadas por actividade humana, da qual se salienta: actividade agrícola (ocupação e recuperação de terrenos, construção de diques, regularização e desvio de canais), aterro e instalação de moinhos de maré. Estes últimos constituem um exemplo interessante de modificação da dinâmica das margens. Nos moinhos de maré a presença de um dique que controla a entrada/saída de água para a zona da caldeira modifica as velocidades de corrente e a taxa de sedimentação na zona a montante do dique. Lima (1995) refere, para a caldeira do moinho de Corroios, um assoreamento de 1.5m nos últimos vinte anos, o que equivale a uma taxa de sedimentação de 7.5cm/ano (a taxa de sedimentação média nos sapais do estuário é variável entre 5mm e 1cm/ano).




FLORA

Ao nível do Património Florístico, no Litoral Norte foram inventariadas 240 espécies de plantas, repartidas por 15 habitats descritos na Directiva Habitats (Decreto-Lei 140/99 de 24 de Abril), dos quais 5 são considerados prioritários:
- Dunas fixas com vegetação herbácea;
- Lagunas costeiras;
- Florestas dunares de Pinus pinea e/ou Pinus pinaster;
- Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica
- Florestas aluviais residuais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alnion glutinoso-incanae).
Verifica-se ainda a existência de 12 espécies exóticas invasoras como são o caso da Acácia (Acacia longiforme), Eucalipto (Eucaliptos globulus) ou Chorão (Carpobrotus edulis).


A Flora é a base de qualquer ecossistema, constituindo dessa forma um elemento essencial na manutenção da homeostasia nas relações entre os seres vivos. O seu conhecimento permite prever o tipo de organismos que utilizam o estrato vegetativo nas suas actividades vitais, e dessa forma proteger habitats e espécies de maior interesse conservacionista.

Os estuários

Nos estuários, a mistura de água doce do rio e com a água salgada do oceano provoca a ocorrência de deposição de sedimentos que permite o desenvolvimento de vegetação aquática específica.
Nas zonas húmidas ribeirinhas de sapais e salgados, onde as marés e os níveis de salinidade são determinantes, verifica-se a predominância de espécies adaptadas ao sal, chamadas halófitas. No “alto sapal”, mais longe da linha de água ou nos taludes das marinhas, domina a salgadeira (Atriplex halimus); mais abaixo surgem as gramatas Salicornea europaea, Sarcocornia ramosissima e Halimione portucaloides e finalmente pode surgir, na zona que fica submersa com as marés, a Spartina maritima
Os prados salgados e os matos halófitos são os habitats que ocorrem em maior abundância, em especial no rio Cávado, onde surgem espécies como o junco (Juncus acutus) e a Arméria (Armeria marítima).


Juncus acutus Armeria marítima

Salicornea europaea Halimione portucaloides
Os ecossistemas estuarinos são as zonas húmidas onde dois meios distintos – rio e mar – se encontram, misturam e interligam.

O fenómeno das marés e a salinidade da água são as duas características mais importantes nos ambientes estuarinos. Importante também é o tipo de fundo (substrato) que aí podemos encontrar, e que é normalmente lodo (partículas finas transportadas pelo rio, também designadas por lama ou vasa) ou areia (partículas transportadas pelo rio e também areias provenientes do mar).

Nos ambientes estuarinos, podemos observar plantas e animais muito diferentes, dependendo da zona que escolhemos para observar: os sapais e as zonas de lamas e areias (zonas entre-marés ou zonas intertidais), ou a coluna de água (zonas subtidais).



Figura 1 – Na margem dos estuários e rias os alfaiates e maçaricos alimentam-se dos animais que vivem no lodo (minhocas, lambujinhas) e que ficam a descoberto na maré vazia.
As zonas intertidais são aquelas que ficam a descoberto na maré vazia e submersas na maré cheia, e onde podemos observar os sapais. O sapal é constituído pelo conjunto dos solos de lodo e da vegetação que suportam (Figura 1).

As zonas subtidais são, pelo contrário, as que ficam sempre submersas e que servem de habitat a muitas espécies animais de origem marinha como peixes, alguns crustáceos, como santolas, e também polvos, chocos e lulas. Estes animais encontram nesta enorme massa de água maior quantidade de alimento do que no mar, e protecção contra os grandes predadores marinhos.



Figura 2 – Na preia-mar (ou maré cheia), as garças cinzentas vem para as zonas intertidais onde tentam alimentar-se de pequenos peixes.
As espécies animais que podemos observar nas zonas estuarinas são variáveis e dependem da época do ano. Assim, na Primavera e Verão diversas espécies de peixes e aves procuram estes ambientes para se reproduzirem, enquanto no Inverno os ecossistemas estuarinos são invadidos por milhares de aves, que vindas dos países frios do norte da Europa, encontram nas zonas estuarinas Portuguesas um óptimo clima para passar o Inverno.

Em Portugal existem diversos ecossistemas estuarinos, sendo os maiores e mais importantes a ria de Aveiro, os estuários do Tejo e Sado e a ria Formosa.