28/10/2008

Sapal de Corroios


I

Deste local é possível observar-se as principais características morfológicas de um sapal salgado em estado de maturação avançado. O sapal desenvolve-se sobre sedimentos essencialmente vasosos e é cortado por numerosos canais de maré, meandrizados e anastomosados, apresentando por vezes, um padrão dendrítico nos canais de ordem inferior. Contrariamente às redes fluviais da margem terrestre adjacente, os canais de maré dos sapais não são formas erosivas, mas formas remanescentes da degradação lateral e vertical dos bancos de vaza que os confinam. A textura e constituição mineralógica destes sedimentos, essencialmente siltosa, argilosa e orgânica, confere-lhes propriedades de floculação, absorção e troca iónica importantes com a água de circulação. Estas propriedades permitem a retenção selectiva de algumas substâncias poluentes (nomeadamente metais pesados) extraindo-os da água de circulação, ficando armadilhados no sapal em crescimento. Por isso, os sapais funcionam como "rins", depurando o sistema hidrológico. Os sapais são ecossistemas que incluem vegetação halófita, apresentando zonação característica determinada pelo tempo de imersão. A vegetação é um factor condicionante da evolução do sapal, sendo os seus sistemas radiculares e estrutura aéreas armadilhas eficientes para a captura de sedimentos trazidos em suspensão pelas correntes de maré. Constituem as zonas de maior produtividade da biosfera, tendo papel importante como berçário de variadíssimas espécies piscícolas e local de nidificação de aves. Cerca de 46% das margens de sapal da Baía do Seixal encontram-se fortemente intervencionadas por actividade humana, da qual se salienta: actividade agrícola (ocupação e recuperação de terrenos, construção de diques, regularização e desvio de canais), aterro e instalação de moinhos de maré. Estes últimos constituem um exemplo interessante de modificação da dinâmica das margens. Nos moinhos de maré a presença de um dique que controla a entrada/saída de água para a zona da caldeira modifica as velocidades de corrente e a taxa de sedimentação na zona a montante do dique. Lima (1995) refere, para a caldeira do moinho de Corroios, um assoreamento de 1.5m nos últimos vinte anos, o que equivale a uma taxa de sedimentação de 7.5cm/ano (a taxa de sedimentação média nos sapais do estuário é variável entre 5mm e 1cm/ano).




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