Desde os tempos mais remotos, que a zona ribeirinha de Corroios incluindo esteiro, sapal e caniçal apresenta condições especiais, para a permanência de aves adoptadas ao meio aquático.
Nesta zona abrigada do vento, de pouca profundidade e onde o vai-vem das marés se faz sentir, abundam peixes, mariscos, algas, plânctom e detritos ôrganicos, os quais constituiem alimento para as muitas aves que por aqui passam, repousam ou se estabelecem. Já nos tempos pré-históricos, esta área foi para o homem recolector, uma riquissíma fonte de caça. Mas foi a partir da idade Média, que nesta orla ribeirinha, a nobreza portuguesa veio instalar as suas casas senhoriais, na mira de caçar. Estão neste caso, a Quinta Real do Alfeite, a Quinta da Princesa ou da Infanta, a Quinta do Palácio do Infante, a Quinta do Conde ou a Quinta do Castelo. O próprio rei D. Carlos caçou nas suas sete quintas reais do Alfeite, debruçadas sobre o Sapal de Corroios, das quais fazia parte a actual Quinta da Bomba do Antelmo a caminho da Ponta do Mato, onde ainda hoje se encontra um edificio em escombros, a que o povo sempre chamou de casa da caça D'el Rei D. Carlos.
Normalmente, esta zona ribeirinha, é frequentada por mais aves no inverno - aves invernantes - do que no verão. Nesta estação fria, podem permanecer nesta área 5 a 10 mil aves, enquanto que na estação quente o seu número pouco ultrapassa o milhar.
É pois no Inverno, que muitas aves migradoras vêm do Norte da Alemanha, Suécia, Noruega ou Finlândia fugindo aos frios rigorosos, procurando o Sapal de Corroios, pelas temperaturas amenas e abundância de alimentos.
Estão neste caso, especialmente as limicolas, ordem das charadriiformes, que com seus bicos compridos e na maré vazia, procuram entre as lamas e os limos o seu alimentos.
Dentro destas aves, salientam-se as seguintes: Alfaiate - (Recurvirostra avosetta), Maçarico de bico direito - (Limosa limosa), Maçarico Real - (Numenius arquata), Perna Vermelha Comum - (Tringa totanus), Tarambola cinzenta - (Pluvialis squatrala), Pilrito Comum (Calidris alpina), Borrelho de Coleiro Interrompido - (Charadrius alexandrinus). A primeira destas limicolas referidas, o Alfaiate, é o simbolo da Reserva Natural do Estuário do tejo e mantém durante o inverno, nesta vasta região terminal do rio, onde se inclui o Sapal de Corroios, cerca de 60% da população mundial desta espécie. Sendo aves relativamente sociáveis, chegam a frequentar própria a Caldeira do moinho de Maré. As outras limicolas referidas, só se encontram normalmente no interior do Sapal, no meio dos mouchões a caminho da Ponta do Mato.Da mesma ordem dos limicolas são igualmente as gaivotas, as aves palmípedes, muitas das quais residentes todo ano por estas paragens. De grande abundância e em expansão, migram diariamente em busca de comer até ao aterro sanitário da Quinta de Valadares, por detrás de Vale Milhaços. Dentro do grupo das gaivotas, distinguem-se as três espécies seguintes: Gaivota de asa escura - (Larus fuscus), Gaivota Argêntea - (Larus argentatus) e Guincho - (Larus ridibundos).
Qualquer uma destas espécies, pode ser encontrada com frequência na caldeira do moinho de maré, embora em maior número durante o inverno.
Outra ave palmipede, mas de ordem dos Anseriformes, o Pato Real (Anas platyrhynchos) tem tentado mesmo a nidificação por estas, como por exemplo nos caniçais ribeirinhos da Quinta do Castelo, sendo infelizmente frequentemente perseguido.
Também uma outra ave palmipede, o Corvo Marinho de Faces Brancas - (Phalacrocorax carbo) aparece especialmente no inverno neste habitat, ultimamente procurando alimento no viveiro de peixes de nome Esperança existente junto à Quinta da Princesa, pertencente ao proprietário Sr. Luis Fernandes, o qual se vê obrigado a enxotá-los para que não se avultem os prejuízos. Estas aves, que deram o nome à designada Ponta dos Corvos, são excelentes mergulhadoras, alimentando-se preferencialmente de enguias, as quais procuram nos fundos do leito do rio.
Também a ordem das ciconiiformes está aqui representada pela Garça Real - (Ardea cinerea) e pela Garça Branca - (Egretta garzetta) que costumam frequentar os mouchões em frente da Quinta do Rouxinol, não muito longe do moinho. A Garça Real é a maior ave aquática do Sapal de Corroios, tratando-se de uma pernalta, com aproximadamente 90 cm de comprimento por 170 cm de envergadura.
Apesar do seu grande tamanho, o peso não ultrapassa normalmente os 2 Kg. Durante o inverno de 1991, foram contados 38 exemplares na zona, o que é um número muito significativo.
Esta ave invernante em Corroios, durante o verão pode ser encontrada nos portos de cidade como, Amesterdão na Holanda ou Estocolmo na Suécia, onde é muito sociável por não se sentir ameaçada. Hoje, já é um simbolo e uma espécie protegida da Reserva Ecológica do Seixal.
Também a Galinha de Água - (Gallinula chloropus) da ordem dos Gruiformes, é comum durante o inverno, nos caniçais dos fundos dos esteiros, tanto na Quinta do Castelo, como do lado de Santa Marta, junto da Quinta da Princesa. Encontram-se igualmente dentro dos caniçais outras pequenas aves da ordem dos passariformes, como é o caso do Rouxinol dos Caniças - (Acrocephalus sp.) - ou do Pisco de Peito Azul - (Luscinia svecica), os quais chegam mesmo a nidificar.
A Quinta do Rouxinol não parece dever no entanto o seu nome à existência desta ave na zona, mas sim, ao nome de familia dos seus antigos proprietários. Em 1744, pertencia a Francisco Rouxinol e em 1770 ao Dr. António Félix Rouxinol, assim como a Quinta da Nisa, junto do Alto do Moinho, pertencia em 1755 ao Dr. Nisa.
Devido não só ao excesso de caça, msa também à degradação do ecosistema riebirinho, algumas aves desaparecem quase por completo. Estão neste caso, a cegonha branca - (Cicónia ciconia), os astraceiros - (Haematopus ostralegus) outrora abundantes nas ostreiras locais, que lhes forneciam alimentos e a aguia sapeira ou tartaranhão ruivo dos paúis - (Circus aeruginosus), atenta predadora de peixes e crustáceos, que com seus voos picados perfurava as águas do esteiro.
Com a concretização do Plano Geral de Saneamneto do concelho, já em execução pela Câmara Municipal do Seixal, que trata neste momento as águas residuais duma parte significativa das populações, na E.T.A.R. da Quinta da Bomba e com a criação da Reserva Ecológica Municipal, que cria um regulamento específico de caça para esta zona ribeirinha, estamos no caminho certo para a recuperação do ecossistema.
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